segunda-feira, 1 de junho de 2009

Monlevade, uma cidade atípicaV


Vista noturna do Aclimação

 

Eu sempre desejei escrever um texto sobre a cultura do povo monlevadense. Talvez nem seja assim a cultura exclusiva dos nossos conterrâneos, mas acredito que não se trata de um costume muito comum. Isso porque somos uma cidade atípica em vários setores, e muito pela herança européia, deixada pelos franceses luxemburgueses e holandeses, que deram início ao Distrito de São Miguel e depois a João Monlevade, com a instalação da indústria siderúrgica. Desde o lançamento de sua pedra fundamental aqui em nossa terra, em 1935, que a Cia. Siderúrgica Belgo-Mineira criou uma cultura corporativista, meio paternalista. E também materna, pois o jargão que se ouve até hoje por aqui é o de que “a Belgo era uma mãe para Monlevade”. Até para a simples troca de lâmpadas comuns nas casas, a Belgo mandava um operário para fazê-la. Sem contar a distribuição de leite de graça, que saia do Lactário a todos os recém-nascidos e crianças, tudo balanceado. A construção de clubes sociais e recreativos para os operários, de escolas públicas de excelente qualidade, de estádio de futebol e o investimento que se fazia para a contratação de jogadores e consequentemente a formação de grandes equipes. Tudo isso deixou uma herança.

 

 

Pois é, mas temos outros tipos de cultura diferenciada. Somos um município minúsculo territorialmente e por isso nem temos zona rural. O monlevadense nem sabe o que é mata-burro, mas aqui há Clube do Cavalo, Cavalgadas e a nossa emissora de rádio AM só toca músicas sertanejas, ou melhor, “breganejas”. Isso também é atípico, meio incoerente para uma cidade de origem siderúrgica e comercial, estritamente urbana. Mas é a verdade. E aqui tem outro problema: não há raiz, não há costumes. Não sabemos nem quem é o Padroeiro de João Monlevade e aqui não há nenhuma festa tradicional, religiosas, por mais que tentem. Aqui as coisas não têm continuidade; as boas ficaram no passado.



E a nossa Cultura?

 

Falo em cultura e não se confunda com artes. E qual a nossa cultura? Preocupar demais com a vida dos outros. Na sexta-feira passada – portanto dia útil - eu e dois colegas conversávamos ali em frente à loja do Ulete Mota, por volta de duas horas da tarde. Passou um conhecido e ironizou: “ô vida boa, héin”! Queria perguntar: - vocês não têm trabalho? Papo de gente pequena, que só quer saber sobre as cervejas que bebemos hoje, mas jamais a cachaça que tivemos de tomar durante anos. Pois em Monlevade é assim, salvem-se exceções, porque aqui também há muita gente mágica, que se enriqueceu da noite para o dia e sabemos que isso é algo impossível. Mas isso é outra história...

 

 

Quero falar dessa cultura de colocar a pessoa pra baixo e deixar a inveja tomar conta. Se você compra um carro novo (nem carece ser zero) e sai pela avenida, vêem aqueles olhos de inveja, bem gordo, e sempre o comentário: “aquele deve de estar roubando ou vendendo droga”. Agora, aparece dirigindo um Fusquinha ou um Chevett para você ver. Está na ponta da língua; “coitado, tá quebradinho. Vendendo o almoço para comprar a janta”. Aqui, meu caro conterrâneo ou conterrânea, a maioria quer te ver ferrado. Ver a sua ferida aberta e dar um bico nela, para sangrar mais. E trabalhar por aqui, progredir, conseguir adquirir sua casinha e comprar um carrinho novo, provoca inveja, mesmo que você esteja ralando na Usina, trocando turno, fazendo hora-extra, o seu vizinho ou até “chegado” quer te ver pelas costas. Agora, quando você parou e passa por uma crise de ordem econômica, riem da sua cara. Cultura mais besta esta, sô!

 

 

Por isso que cada um deve viver a sua vida mais discreta, para não provocar o olho gordo do colega. E aqui em Monlevade o que há de gente invejosa com o sucesso dos outros ou a felicidade com a queda, é mais que a maioria mais um. Fazer o quê? 

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