terça-feira, 26 de maio de 2009

A Hipocrisia anda lado a lado de nossos políticos


 

Gratidão é algo que se deve levar para o túmulo. Afinal, entre as más qualidades, a pior delas é a ingratidão. É saber que alguém nunca se importou por esse ou aquele favor. É sentir na pele o prato cuspido e escarrado depois que o mesmo lhe deu alimento. É ser renegado mesmo depois do dever cumprido. É não ouvir a palavra mágica: “muito obrigado”! É fazer de conta que não está acontecendo nada... Como diz uma música de Herivelto Martins, “conseguiste magoar quem das mágoas te livrou. E acima de tudo atiraste uma pedra turvando esta água, esta água que um dia por estranha ironia tua sede matou”...

 

 

E foi com esse sentimento que vi descer ao túmulo o corpo daquela que mais representou João Monlevade com sua arte. Cuja voz ecoou por tantos cantos deste Brasilzão. E a nossa terra pode ter gerado até artistas mais famosos, mas nenhum representou mais a nossa cidade do que esta já saudosa negra, a maravilhosa Neide de Souza Roberto, que nos deixou na última sexta-feira, aos 66 anos de idade. E o meu sentimento era uma mistura de dor e desilusão pela ingratidão dos homens públicos desta terra, que foram tão ingratos durante a despedida de nossa cantora. Não vi ali durante o féretro e muitos menos no cemitério do Baú – onde o corpo de Neide foi sepultado – nenhuma cara de político. Ausente o prefeito Gustavo Prandini e ausentes também os 10 “nobres” vereadores. Aliás, os mesmos que, com décadas de atraso, prestaram uma homenagem à grande cantora na semana passada, quando a mesma já se encontrava no leito de morte. Esses homens, esses políticos, que andam lado a lado com a hipocrisia. Não vi também o ex-prefeito Carlos Moreira e nem o deputado Mauri Torres, outros ingratos, que viraram as costas e cuspiram no mesmo prato que comeram. Atitude de pessoas ingratas.

 

 

Pois é, mas estávamos ali pouco mais de cem pessoas naquela manhã de sábado para nos despedirmos de Neide Roberto, a nossa maior estrela. A família, amigos e admiradores. Mas nem 10% do que merecia a cantora pelo tanto que ela representou e representará para João Monlevade, para o meio artístico e para a nossa cultura. Bajulações de políticos com objetivos eleitoreiros, nada mais. Sentimentos paridos pela razão e jamais pelo coração, quando resolveram brincar com a dor dos outros através de artifícios politiqueiros e demagógicos.

Mas talvez isso – a prática da injustiça – faça parte da rotina da vida, quando ganham nomes de ruas e avenidas, ou são agraciados com títulos de Cidadania Honorária os “Valdemares das Couves”, jargão este criado por Wilson Vaccari para ironizar homenagens a pessoas que nada fizeram para João Monlevade. Enquanto as neides e tantos outros que tão bem representam a nossa terra, somente são lembrados após a morte, ou no leito dela. Os nossos políticos valorizam muito mais aqueles que trazem ganhos políticos e financeiros.

 

 

Mas, apesar de tudo, acredito que o caso Neide Roberto sirva como exemplo para que outras injustiças não sejam cometidas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário