sábado, 30 de maio de 2009

Os Heróis Anônimos



Betinho, Chico Mário e Henfil, no colo da mãe e que se tornou famosa com “Cartas para Mamãe”, publicadas pelo cartunista em sua Coluna na Revista “IstoÉ”





Como brincou o amigo Márcio Passos, ele está se tornando um alcoólatra de tanto ler em meus escritos que sempre estou acompanhado de uma cerveja com cachaça. Pois é, mas esse fato se repete nessa noite de sábado, aguardando apenas que o grande “Duda”, aqui do Magalito, mande subir as loiras geladas. Mas é que a cerveja dá um sentimento mais profundo à emoção e a cachaça coloca de vez a inspiração sobre os teclados. E se Vinícius sempre se inspirou no copo de Wisck, assim como Chico Buarque e outros grandes mestres, este simples escrevinhador opta por doses mais baratas.

Pois bem, mas é que antes de o sono chegar assisto a um Documentário intitulado “3 Irmãos de Sangue”, produzido em 2006 pela cineasta Ana Patrícia Reininger e que conta história de vida de três brasileiros raros e que tiveram um papel social e cultural de tamanha relevância em nosso país. Foram os irmãos Betinho, Henfil e Chico Mário, todos hemofílicos de nascença e que foram contaminados – nos anos 1980 – pelo vírus da Aids, através da transfusão de sangue. Isso porque a saúde pública do Brasil não deu a importância necessária ao problema e sangue contaminado era distribuído aleatoriamente sem nenhuma fiscalização. E, entre milhares de vítimas – pode-se dizer “assassinados pelos governos federal, estadual e municipal”, como citou Henfil dias antes de morrer -, os três irmãos. O sociólogo, o cartunista e o músico, respectivamente.

Assistindo ao Documentário, a minha reação foi espanto. Afinal, o dever dos governos é o de oferecer saúde à população. Mas no Brasil, o que se oferece é sangue soropositivo. E será que o quadro mudou nos últimos vinte anos? Ou o pobre continua sendo humilhado nas portas dos hospitais públicos deste país? Mas, isso é outra história, porque falo aqui dos irmãos. Chico morreu aos 40 anos, em 1988. Henfil morreu aos 44 anos, também em 1988. Betinho veio falecer em 1997, aos 62 anos. Todos de forma prematura e assassinados com sangue contaminado. Mas, qual de nós, brasileiros que conhecemos as histórias desses heróis, tem na memória a lição de vida de cada um deles? A nossa memória não é curta, ela foi perdida de vez. Lembramos sim de outros heróis, daqueles produzidos pela mídia. Não dos cartuns e do humor afiado do Henfil, das lindas melodias de Chico Mário e da luta em favor da cidadania do Betinho, idealizador do programa “Fome Zero”, no ano de 1993, e que hoje apenas ficou para a história. A obra dos diques, iniciada por eles, não teve sequência. Uma pena! E certamente outros heróis brasileiros também são esquecidos.

 

Um comentário: