domingo, 19 de abril de 2009

A Rádio de Acrízio Engrácio



 

Dois anos antes de a Rádio Cultura entrar em operação, precisamente em 1959, um operário da Usina da Belgo-Mineira conhecido por Acrízio Engrácio, empreendedor por natureza e muito simples, mas um homem à frente do seu tempo, instalou na sede do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos, bairro Cidade Alta, uma pequena emissora, com transmissor precário, apelidada de Rádio "Lobisomen". De acordo com a “Coluna da Cora”, publicada na edição de nº 48 do jornal Morro do Geo, de 10 de janeiro de 2003, a emissora foi ao ar por alguns meses, com programas de calouros e uma programação variada, e obteve apoio do engenheiro Joseph Hein, diretor da Usina da Belgo-Mineira em Monlevade na época, que teria sido o responsável pela liberação do transmissor. Um outro serviço de rádio fora montado na Casa Paroquial, onde funcionava uma outra emissora e cujo diretor era o Cônego Higino de Freitas, segundo informou o professor e historiador Eustáquio Ferreira da Silva, “Dadinho”. Pode-se afirmar então que Acrízio Engrácio e o Padre Higino de Freitas teriam sido os pioneiros nessa empreitada. 

 

 

Poucos tinham acesso aos aparelhos de TV em suas casas e a grande maioria das pessoas ouvia as emissoras do Rio de Janeiro, principalmente a Tupi, Mayrinck Veiga e a Rádio Nacional. Não havia até então uma influência midiática local, de massa e, como exemplo, imperava nas transmissões radiofônicas na cidade o futebol carioca. Com a chegada da Rádio Cultura, esse quadro mudou radicalmente. Em pouco espaço de tempo, criou-se o gosto pelas transmissões esportivas dos clubes locais e até mesmo de Belo Horizonte. A emissora deu início ao seu programa jornalístico que ia ao ar diariamente, com notícias locais e regionais, mexendo com o ego dos monlevadenses e enchendo-os de orgulho. Houve uma transformação social muito grande, conforme relatou a funcionária pública aposentada Neide Roberto, uma das primeiras cantoras a se apresentar no auditório da Rádio Cultura. Segundo ela, a rádio fez com que os monlevadenses se sentissem importantes.

 

 

Com menos de um ano em operação, a direção da Rádio Cultura montou uma equipe esportiva de grande qualidade. Afinal, desde os anos 1950, a Belgo-Mineira daria ao futebol monlevadense grande destaque e buscava jogadores de alto nível em várias cidades de Minas. Surgiram equipes de nível profissional em Monlevade e com isso era interessante destacar as transmissões esportivas na emissora; uma forma de arrebanhar multidões. Uma matéria publicada no jornal “O Pioneiro”, de julho de 1962, noticia um fato histórico que teria sido a transmissão do jogo entre Atlético Mineiro e Botafogo, um mês depois de a Seleção Brasileira sagrar-se bi-campeã mundial de futebol no Chile. E, naquela época, a equipe da estrela solitária era o celeiro de craques que havia participado da Copa do Mundo, entre eles Garrincha, Nilton Santos e Djalma Santos.

 

 

Assim nascia a Rádio Cultura que, por 15 anos, revolucionou a comunicação de massa em João Monlevade; também com seus programas de auditório e trazendo artistas que fizeram histórias nas grandes emissoras de rádio do Rio e São Paulo, como Nelson Gonçalves, Ciro Monteiro, Elizete Cardoso, Clara Nunes, Cauby Peixoto, Radamés Gnattali, Procópio Ferreira e Roberto Carlos. Importante frisar que a Rádio Cultura, durante os 15 anos em que pertenceu à Belgo-Mineira, de 1961 a 1976, teve grande influência na cultura da população e conseguiu formar uma comunidade mais politizada e participativa.

 

 

Em 1976, a rádio foi negociada com o Sistema Globo, em Belo Horizonte, e passou a ser denominada de Rádio Tiradentes/Globo. A Belgo já não tinha mais interesse em manter uma emissora na cidade, mesmo porque ela já vinha operando no vermelho e conseqüentemente a empresa já tinha iniciado sua nova política de atuação na cidade, minimizando a sua prática assistencialista. O processo visando a terceirização de serviços viria sucumbir alguns anos depois.

 

 

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